15 de maio de 2011

Woody Allen e Machado de Assis

Quem acha que as memórias de um defunto não interessam a ninguém precisa conhecer Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis, 1881), livro em que um defunto narrada a quem interessar possa, as peripécias de sua vida. A obra, apreciada por críticos e leitores comuns, já foi adaptada para o cinema, mas foi na sua condição grafada que caiu nas graças de Woody Allen, um conhecido cineasta americano.

A pedido do jornal The Guardian, Allen lista cinco livros que tiveram impacto em sua carreira. A obra machadiana aparece ao lado de O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger; da coletânea de textos de humor The world de S. J. Perelman; e das biografias Really the blues, de Mezz Mezzrow e Bernard Wolfe, e Elia Kazan, de Richard Schickel.

"É uma obra muito, muito original", afirmou o cineasta. Ele conta que ganhou o livro de presente de um brasileiro. "Eu recebi pelos correios. Alguém que eu não conhecia me mandou e escreveu 'Você vai gostar disso'. Eu li porque não era um livro grande. Se fosse maior, eu teria descartado. Mas fiquei chocado com como ele era charmoso e divertido. Não acreditava que ele tivesse vivido numa época tão distante. Você pensaria que foi escrito ontem. É tão moderno e prazeroso. É uma obra muito, muito original. O livro me despertou alguma coisa. Era um assunto de que eu gostava e que foi tratado com muita inteligência, uma originalidade tremenda e nenhum sentimentalismo", declarou.



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5 de maio de 2011

Solombra

Eu sou essa pessoa a quem o vento chama,

a que não se recusa a esse final convite,

em máquinas de adeus, sem tentação de volta.

Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza.

Eu sou essa pessoa a quem o vento leva:

já de horizontes libertada, mas sozinha.

Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,

dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho?

Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga.

Pelos mundos do vento, em meus cílios guardadas

vão as medidas que separam os abraços.

Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina:

“Agora és livre, se ainda recordas.”

MEIRELES, Cecília. Solombra. In: MEIRELES, Cecília. Poesia Completa. Edição do centenário. Vol.II. Organização de Antonio Carlos Secchin. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p.1273,4.




Quando li essa poesia fiquei encantada, melancólica, triste, aliviada, leve, livre...

Senti vontade de estar nas mãos do vento, de por ele ser despida

E nua de amores, de conceitos, de deveres...

Ser apenas uma brisa calma, suave, sem ponto de partida ou de chegada.

Eis a poesia, essa expressão divina cunhada pelas mãos do poeta em tábuas

Palpáveis aos humanos, é o sagrado manifestado a todos,

Mas por muitos desprezada... Vôo desconhecido.